Assim como sempre que possível, é você quem deve escolher
seus inimigos, também é você quem deve escolher as brigas em que vai entrar.
Quem escolhe a briga, escolhe o inimigo, o momento, o
terreno, as armas, e ocupa a ofensiva. Tem, portanto, todas as vantagens que
estas escolhas outorgam.
A prerrogativa de escolher o inimigo, não deve significar
que você somente escolhe aqueles que tem certeza que são mais fracos e mais
fáceis de abater.
Escolher o inimigo e decidir a briga é uma decisão
estratégica que deve atender a 3 requisitos:
1 - Possibilidade de vencer
2 - Relevância das razões da briga
3 - Possuir as condições para bancar o “ônus” da vitória
Possibilidade de vencer
Excluindo-se aqueles casos em que se deve brigar, porque o
que está em jogo é muito valioso (a própria vida, por exemplo) e que configuram
situações de lutas heróicas, sagradas, patrióticas, o princípio enunciado no
título deve ser religiosamente observado: “Nunca entre numa briga que não pode
vencer”.
Quanto mais provável a possibilidade de vencer, mais
interessante politicamente a briga se torna para você. Inversamente, quanto
menor a possibilidade de vitória, menos interessante ela é. Além disso, quanto
mais parelha a luta, mais decisiva se torna a sua capacidade de escolher o
momento, e tomar a iniciativa.
Relevância das razões da briga
Não é qualquer briga que lhe interessa, considerando-se
agora, as razões que a justificam. O político “brigão”, para o eleitor é um
destruidor, negativista, perigoso. De outra parte, o político que não briga
para defender algo de valor e relevância, aparece para o eleitor como inseguro,
talvez culpado e até covarde.
Se você decidir entrar na briga faça-o por um motivo
relevante e importante. Mas atenção, trata-se de política, portanto, importante
e relevante também para o eleitor. Se for importante apenas para você não conte
com o intreresse do eleitor. Ele não se interessa em comprar a briga de outros.
O eleitor aceita que você entre na briga por motivos
pessoais, sempre que você for atacado na sua reputação, no seu caráter e
moralidade. Neste caso, não entrar na briga equivale a assinar uma confissão de
culpa.
Fora destas situações, a briga por razões pessoais é mal
vista pelo eleitor, que não sanciona com sua aprovação a política do ódio, do
revanchismo, ou a briga por vaidades ofendidas.
Possuir condições para bancar o ônus da vitória
Este princípio pode-se dizer, encontra sua clássica
confirmação em Pirro, rei de Epirus, no século III AC. Pirro decidiu combater
os romanos e os venceu, mas o custo da vitória foi tão elevado que ele teria
comentado: “Mais uma vitória como esta e eu estarei perdido”.
O “princípio de Pirro” aplica-se à política sem dificuldade.
Há inúmeras vitórias políticas, cujo custo pessoal,
político, econômico, administrativo e junto à opinião pública, revela-se tão
oneroso, que melhor teria sido evitar a luta.
A vitória numa briga é sempre encarada como “lucro”. Quem
venceu, supõe-se, acresce às suas forças as de outros, inclusive de parte dos
que estavam com o derrotado. Isto pode acontecer, mas não é o mais comum.
Normalmente, quem vence gasta boa parte do seu capital de
recursos materiais, simbólicos e de tempo, para lograr a vitória.
Não poucas vezes o beneficiário é um “tertius”, alguém que
não tendo entrado na briga, aproveita a oportunidade para diferenciar-se dos
dois contendores e, não sofrendo o desgaste do conflito, dele se beneficia.
Outras vezes, o ônus da vitória faz com que o político ganhe
aquela batalha, mas acabe por perder a guerra. Outras ainda, ganha a briga, mas
é forçado a gastar tantos recursos (materiais e simbólicos) que perde as
condições de realizar o que prometeu para o caso de sua vitória. Outras também,
como no caso de Pirro, ganha, mas perde as condições de enfrentar outras
batalhas.
Quando lhe convier, pois, brigue, ganhe, mas assegure-se que
o “preço da vitória” não seja proibitivo e não beneficie a terceiros. Mais
ainda, assegure-se de que a vitória naquela batalha vai deixá-lo mais forte,
com maior autoridade e maior confiança, para vencer outras batalhas.
Fonte: política para políticos
Texto: Francisco Ferraz
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