“A política cria estranhos companheiros de cama” – “Politics makes strange bedfellows”
Adversários e inimigos de ontem, por razões de interesse político, unem-se, somam forças, para lutar por algum objetivo em comum.
A expressão assinala aquela situação em que, para surpresa geral, adversários e até inimigos de ontem, por razões de interesse político, unem-se, somam forças, para lutar por algum objetivo em comum. Não se trata, no entanto, de momentos críticos na história de uma comunidade, nos quais a defesa e a sobrevivência da comunidade exigem a união de todos: este é o caso da união heróica.
Charles Warner sintetizou o espírito de uma das mais tradicionais regras políticas
A referência de Warner aplica-se a situações desprovidas de qualquer heroísmo: as de conveniência política, de convergência conjuntural de interesses. Por isso, são recebidas com surpresa geral.
A imagem da “cama” acentua a intimidade com que essa nova e inesperada aliança foi firmada. A expressão “companheiro de cama” é empregada a políticos cuja inimizade é histórica e quer denotar o quanto aquele interesse comum é forte, a ponto de gerar tanta afinidade.
Não é por pouca coisa que rivais históricos abrem mão de suas diferenças, esquecem os agravos passados e contornam a resistência de seus tradicionais pares a fim de compor uma união. O ato significa que eles foram capazes de vencer, cada um em seu próprio território, fortes oposições pessoais, grupais e partidárias para consumar a união.
Em geral, episódios de “estranhos companheiros de cama” ocorrem de uma mesma forma e principalmente por uma razão.
A forma
Não é por pouca coisa que rivais históricos abrem mão de suas diferenças, esquecem os agravos passados e contornam a resistência de seus tradicionais pares a fim de compor uma união.
Quem toma a iniciativa, invariavelmente, é o lado mais forte: aquele que ganhou a eleição, que está no governo, que goza de uma boa avaliação por parte da opinião pública. E o principal “lance” é o anúncio. Mas antes dele houve um sério e cauteloso processo de negociação, cujas fases principais foram:
(1) a seleção de um intermediário que tenha a confiança dos dois líderes para levar a mensagem com a idéia
(2) uma breve e secreta comunicação entre os dois para que seja dado o sinal verde ao procedimento
(3) a designação de pessoas, que também sejam confiáveis, para se reunirem e aplainarem as arestas, elaborando uma espécie de protocolo
(4) o acerto final do protocolo
(5) a escolha da data, forma, das falas e das medidas que serão adotadas na ocasião em que o “lance” será levado a público
Comunicada a união, os líderes precisarão investir tempo e capacidade de argumentação para conferir-lhe uma dimensão de grandeza e altruísmo. É o momento de fazer vencer a versão oficial, que tem a missão de tornar palatável à população o inusitado da união de flancos inicialmente opostos.
As razões
A razão mais freqüente para juntar dois oponentes é a tentativa de cooptação, isto é, de atrair para o seu lado quem até então foi adversário. Trata-se de um dos processos políticos mais utilizados para:
■Reforçar a equipe com pessoas qualificadas, que são independentes, adversários ou a estes ligadas
■Enfraquecer os argumentos contrários da oposição
■Aumentar o apoio político e a legitimidade
Reações dos eleitores
Em geral “lances” políticos dessa natureza despertam muita desconfiança entre os cidadãos e tendem, pelo menos num primeiro momento, a produzir desgastes para as duas partes envolvidas. O indivíduo comum em geral conserva uma visão fortemente moralista da atividade política. Assistir a uma cena na qual políticos que sempre foram adversários ferrenhos aparecem juntos, alegres e sorridentes, elogiando-se mutuamente, parece-lhe uma prova suprema de hipocrisia, da falta de princípios e dos interesses possivelmente espúrios que os aproximaram.
Por outro lado, surgem também – embora com menor força e abafados pela reação inicial – sentimentos de surpresa, curiosidade, expectativa e até uma simpatia “enrustida”. Existe uma convenção social que aprova gestos que signifiquem fazer as pazes, perdoar agravos, unir-se em nome de uma causa maior
Atitude dos políticos
Os políticos que patrocinam a “subida na cama”, deverão exibir a iniciativa como um ato que corteja aquela “aprovação social” acima referida. A união foi buscada em prol de um objetivo maior, do interesse da coletividade. Assim, para realizá-la era preciso ter a capacidade de superar hostilidades passadas e olhar para o futuro. Precisam, ainda, enfrentar o estigma da mudança. A realidade política é dinâmica, a vida muda, cada um de nós também muda e permanecer amarrado ao passado é um sinal evidente de decadência.
A freqüência com que os procedimentos de cooptação são adotados por todos os governos, de todas as filiações partidárias, é um indicador seguro de que ela é eficiente e funciona. A população, ressalvados segmentos menores intransigentes, aceita a composição política realizada dessa maneira. Por essas razões, a política é uma atividade que cria estranhos companheiros de cama e que por certo os continuará criando. Algumas observações sobre a ocorrência de tal procedimento:
■Quanto mais polarizada estiver a situação política, menos provável será sua ocorrência
■Quanto mais radicalizado o conflito entre os grupos e respectivas lideranças, será menos provável que o fenômeno se realize
■Quanto menor o tamanho da comunidade onde polarização e radicalização se manifestem, será, também, menos provável que ele ocorra.
Texto do site: www.politicaparapoliticos.com.br
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